Poema do riopretano poeta Nelson Pires, composto em Venda Nova (Belo Horizonte – MG), em 8-4-1984.
Por volta de 1999, o saudoso e amigo Nelson Pires presenteou-me com este seu realístico poema, “A Triste Morte de um Cão Fiel”.
Para baixar uma cópia do poema datilografado por ele (531 KB):
A Triste Morte De Um Cão Fiel
Tudo tão de repente
Que mal deu pra gente
Saber o que aconteceu
Pedras talvez atiradas
Numa casa de abelhas malvadas
E o pobre Cacique morreu.
Morreu sem saber porque
Amarrado não pôde correr
Como fez sua companheira
Moêma solta estava
E como doida saltava
Por entre as bananeiras.
Gelson quando tudo viu
Na mesma hora sentiu
Aquele perigo tremendo
Com o barulho bater de asa
Fechou toda a casa
E desceu o quintal correndo
Sem saber qual o destino
Naquele momento repentino
Olhou para trás e viu então
O Cacique acorrentado
Latindo pobre coitado
Sentiu dor no coração.
Mas nada podia fazer
Ele tinha que correr
Para a mamãe avisar
Que o beco não descesse
Pois se tal acontecesse
As abelhas iriam picar.
Alegres e sorridentes
Descíamos o beco indiferentes
Ouvimos gritos assustados
Não tivemos tempo de correr
Sem saber o que fazer
Pelas abelhas fomos atacados.
Um burro de carga pulando
Eu, mamãe e Delson gritando
Foi lenha por todo lado
De repente toda a praça
Enchia de gente achando graça
O pobre do burro foi atacado.
Com todo aquele alvoroço
Ficamos sem almoço
Também fome não tínhamos mais
Mas hão de ficar lembradas
Todas aquelas picadas
Das abelhas mortais.
Sem saber da nossa sina
Eu mais o Gelson fomos pra Mina
Verificar o que sobrou de tudo
Com um chamado pressentiu
O cãozinho nem latiu
O Cacique estava mudo.
Vi o semblante do Gelson mudar
Porque foram matar!
Aquele cãozinho tão fiel?
Abelhas desgraçadas e frias
Não sentirão mais alegrias
De chupar o seu próprio mel.
Porque hoje mesmo talvez
Derrubaremos de uma só vez
E para satisfação minha
Quebraremos a grande casa
Não ouviremos mais bater de asa
Destruiremos a famosa rainha.
Quando mamãe ficou sabendo
Que Cacique estava morrendo
Notei a dor que ela sentiu
Foi depressa descendo o morro
Na esperança de prestar socorro
Mas o cãozinho não latiu.
Estava morto o coitadinho
Ali quieto tão sozinho
Estava tudo terminado
Foi triste para mim
Todo princípio tem um fim
O destino estava traçado.
Perdoe-nos Cacique porque
Não sabíamos que você
Teria esta triste sina
De morrer acorrentado
Com o corpo todo picado
Por abelhas assassinas.
Cacique descanse em paz
Recordações não terá jamais
Deste mundo de maldades.
Aceite desde então
Com forte dor no coração
Nossas eternas saudades.
Belo Horizonte – MG, 8-4-1984.
Nelson Pires